Atletas cobram dívida de quase 20 anos no Beach Soccer Feminino
O Desafio das Mulheres no Futebol
As mulheres enfrentam desafios diários que impactam sua trajetória, como a disparidade salarial, a carga desproporcional de responsabilidades domésticas e o julgamento a que são submetidas em relação às suas decisões de vida, aparência, comportamento e carreira. No universo do esporte isso não é diferente, principalmente no futebol, onde as mulheres buscam constamente igualdade. No Brasil, por exemplo, entre 1965 e 1979, as mulheres eram proibidas por lei de praticarem o esporte, considerando inaceitável que mulheres contrariassem a “natureza de ser mãe” em um “esporte masculino e violento”. Alemanha, Bélgica, França e Paraguai tiveram destino semelhante para o futebol das mulheres. E, apesar disso ter ficado no passado, ainda temos alguns resquícios dessa desigualdade.
Manchete de jornal brasileiro diz: “Proibido Futebol Feminino”
Agora chegou a vez das mulheres no Beach Soccer buscarem seu espaço. Assim, lideradas por Ali Hall, da seleção feminina Beach Soccer dos Estados Unidos, várias atletas têm usado as redes sociais para reinvindicar a realização de uma Copa do Mundo FIFA na categoria.
Como as Mulheres Chegaram às Copas do Mundo FIFA?
Pra se ter uma noção de como tem sido a vida das mulheres nas modalidades de futebol, a primeira Copa do Mundo Feminina de Futebol de Campo foi realizada em 1991, na China. Naquele momento já tinham ocorrido 14 edições da Copa do Mundo Masculina de Futebol, com a primeira tendo acontecido em 1930, no Uruguai. Ou seja, foram necessárias quase seis décadas de competições mundiais masculinas, antes que a primeira Copa do Mundo feminina de Futebol de Campo fosse realizada, um marco negativo para a modalidade.
No futsal, a história se repete. A Copa do Mundo de Futsal da FIFA masculina começou em 1989, contando com 10 edições até agora. E, embora a FIFA só tenha oficializado o futsal feminino em 2015, sem realizar nenhuma Copa do Mundo até agora, as confederações nacionais já organizavam o Torneio Mundial de Futsal Feminino desde 2010, evento que ocorreu anualmente até 2015. Porém, após uma mobilização expressiva de várias atletas de futsal ao redor do mundo, a FIFA finalmente marcou a primeira Copa do Mundo de Futsal Feminino para 2025.
“Foram necessárias longíquoas quase seis décadas de competições mundiais masculinas, antes que a primeira Copa do Mundo FIFA de Futebol Feminino fosse realizada, um marco negativo para a modalidade”
Beach Soccer: A Bola da Vez
O Beach Soccer segue pelo mesmo caminho. Mas, diferente do futsal, o naipe feminino no Beach Soccer nunca teve um mundial, nem mesmo um “não oficial”. E as atletas não querem ter de esperar décadas até que o sonho da Copa do Mundo Feminina no Beach Soccer seja concretizado! Desde que a FIFA assumiu a organização do Mundial, em 2005, as competições têm ocorrido, em geral, a cada dois anos. Assim, até 2024, ocorreram 11 edições do torneio masculino sob a administração da FIFA. Mas vale lembrar que, antes da FIFA, foram realizados dez mundiais masculinos, sem que nenhum mundial feminino tenha sido realizado até hoje. Ou seja, somando tudo, as atletas de Beach Soccer estão há 21 mundiais masculinos de espera, sem ver seus sonhos de defender as bandeiras de seus países ser concretizados.
Elas querem virar esse jogo!
Lideradas pela atleta Ali Hall, da seleção dos Estados Unidos, e sob o slogan: “Nós estamos prontas”, várias atletas têm se manifestado através das redes sociais. “Já passou da hora de termos uma Copa do Mundo de futebol feminino da FIFA. Quando comecei a jogar futebol de praia, fiquei chocada que ainda não existia um Mundial Feminino, enquanto os homens já tinham o Mundial há tantos anos. Apenas queremos ter a oportunidade de jogar no palco mundial. Existem mulheres ao redor do mundo que trabalham muito duro todos os dias por este esporte. Merecemos representar nossos países no maior palco,” avalia Ali Hall.
“Já passou da hora de termos uma Copa do Mundo de futebol feminino da FIFA. Quando comecei a jogar futebol de praia, fiquei chocada que ainda não existia um Mundial Feminino, enquanto os homens já tinham o Mundial há tantos anos.” (Ali Hall, EUA)
Entusiasta, Ali Hall acredita que liderar este movimento é um caminho não só para agora, mas pensando no futuro também: “Tem sido uma experiência emocionante liderar e chamar a atenção para este tema. A paixão das atletas é incrível, e isso me motiva ainda mais. Sinto-me honrada em fazer parte disso e poder ajudar a abrir caminho para as futuras gerações.”
Ali Hall (imagem acima) lançou uma publicação semana passada, provocando a realização de uma Copa do Mundo de Beach Soccer organizada pela FIFA
Atletas de Todo Mundo se Pronunciam
Fabiana Vecc, Itália
Para Fabiana Vecc, da seleção italiana, uma Copa do Mundo é dar às mulheres o direito de igualdade: “Há anos que lutamos pela igualdade de género, mesmo quando se trata de dinheiro. Estamos no mesmo nível de sacrifício que os homens, dentro e fora do campo. Portanto, merecemos os mesmos direitos que eles no desporto e na vida.” E Fabiana ainda continua, solicitando à FIFA que dê voz ao movimento: “Aprovar a copa do mundo feminina significa que a FIFA decidiu ajudar o movimento feminino a crescer. Portanto? Caramba, você acredita em mulheres? Estamos prontas e queremos jogar a Copa do Mundo.”
Bárbara Colodetti, Brasil
“Disputar uma Copa do Mundo seria muito mais do que a realização de um sonho! Seria um importante passo para nós, atletas mulheres, para o desenvolvimento do Beach Soccer feminino pelo mundo”
Andrea Mirón, Espanha
No mesmo caminho, a espanhola Andrea Miron, que também esteve na festa de premiação de melhores do mundo, ressaltou: “É um sonho, é algo que todo futebolista quer conquistar, é o prêmio à constância, ao sacrifício, ao trabalho. É o maior êxito do mundo se consegues conquistar essa taça, por isso é que eu e qualquer deportista gostaria de poder desfrutar de esse privilégio, de jogar uma Copa do mundo.”
O que a FIFA diz?
A FIFA ainda não se pronunciou oficialmente sobre o caso, e as atletas seguem buscando o merecido espaço na modalidade. Apesar disso, o presidente da Beach Soccer World Wide (BSWW), o empresário espanhol Joan Cusco, se manifestou na publicação de Ali Hall, com um aceno positivo: “Está na hora disso, conte conosco”.
E, contrariando a ideia de que um mundial só possa ocorrer com seleções femininas estabelecidas e em pleno funcionamento, a atleta japonesa, Saki Kushiyama, explica: “O Japão, por exemplo, não tem uma seleção nacional e a justificativa é que, como ainda não há nenhuma competição oficial, não há porque se formar e manter uma seleção nacional. Mas, caso as eliminatórias asiáticas e a Copa do Mundo sejam anunciadas, a expectativa é que uma seleção nacional japonesa seja formada. No momento, o que podemos fazer é agir enquanto atletas e mulheres, e é o que estamos fazendo.”
Confira a manifestação de outras atletas
Vídeo criado pelas atletas, como forma de manifestação sobre a realização da Copa do Mundo de Beach Soccer Feminino
Saki Kushiyama, Japão
“Eu ficaria feliz se o dia chegasse em que a Copa do Mundo Feminina fosse realizada. O número de jogadoras de futebol de praia ainda é pequeno no momento. A partir daí, o número de jogadoras aumentará em todo o mundo, e jogadoras de cada país competirão entre si com o objetivo de disputar a Copa do Mundo, e acredito que se tornarão ainda mais fortes no futuro.”
Naty Murillo, Colômbia
“Seria o meu maior sonho! Até mesmo apenas ir e ver. Poder participar de uma Copa do Mundo de Beach Soccer Feminina, seria a realização de toda uma vida de carreira esportiva, de uma maneira maravilhosa”
Silvana Souza, Brasil
“Uma Copa do Mundo de Beach Soccer Feminina seria a realização de um sonho que vive dentro de cada uma de nós. Frutos de trabalho e colheita! É sermos valorizadas por tudo que fazemos pela modalidade. Esta é uma causa de todos que gostam da modalidade!”
Gabby Batmani, EUA
“Nós estamos prontas!”
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